De onde vêm as boas ideias, segundo Steven Johnson

Sete padrões fundamentais para se investigar as ideias inovadoras e o desenvolvimento da tecnologia e da ciência no mundo.

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Há quem acredite que as melhores ideias nascem em momentos de inspiração individual ou das famosas epifanias. Mas Steven Johnson, o “Darwin da Tecnologia”, aponta como a história conta uma versão diferente: as grandes inovações criadas pela humanidade não resultaram de prodigiosos talentos ou de mentes superiores isoladas. As maiores invenções, ao contrário do que costumamos pensar, precisaram de ambientes propícios onde pudessem florescer.

No livro De Onde Vêm as Boas Ideias, o escritor busca encontrar um modelo no surgimento de descobertas científicas e inovações tecnológicas. O autor apresenta sete padrões fundamentais para investigar o desenvolvimento da tecnologia e da ciência no mundo.

“Este é um livro sobre o espaço da inovação. Alguns ambientes sufocam novas ideias; outros parecem gerá-las sem esforço. A cidade e a Web foram motores de inovação desse tipo porque, por razões históricas complexas, ambas são ambientes poderosamente propícios à criação, à difusão e à adoção de boas ideias”, comenta.

Steven Johnson desmistifica as grandes criações. Para ele, elas não são fruto de gênios criativos que num insight repentino são capazes de criar algo que mudará para sempre a história. Pelo contrário, as grandes criações resultam do amadurecimento de uma longa pesquisa, do exercício de pensar sobre, e, sobretudo, do ambiente.

A imagem do gênio solitário que tem um estalo, portanto, não passaria de mito. “Os momentos eureca são raros. E, quando realmente acontecem, são resultado de um processo lento e evolucionário”.

No livro, o autor fala em cada capítulo sobre sete características que considera fundamentais, como padrões para o processo de inovação:

1. O adjacente possível: as ideias evoluem a partir de outras

Trata das combinações que você pode fazer em cada estágio. Cada combinação dá origem a outro tanto de variações, numa sequência que pode formar uma célula. Daí, mais combinações, variações e possíveis resultados.

Adjacente possível é como as portas de uma sala. Cada uma que você escolher abrir vai dar em outra sala com outras portas e o desdobramento é infinito. Mas não dá para pular salas inteiras, tem que percorrer todo o caminho.

Um exemplo: o Youtube não seria o sucesso que é se tivesse sido criado nos anos 80, pois a web não comportava vídeos com as facilidades de hoje e ainda não tinha banda larga. Então, antes de desenvolver uma ideia, tem que dar uma olhada nas portas para ver o desdobramento imediato. Às vezes, é preciso esperar mais um pouco.

2. Redes Líquidas: as redes nas quais as informações se chocam constantemente.

Quanto maiores as possibilidades de conexões e adjacentes possíveis, mais favorável é o ambiente. Afinal, já ficou claro que boas ideias são resultadas de conexões.

Para ter boas ideias, são necessárias duas pré-condições: uma grande rede e que essa rede tenha capacidade de se adaptar e adotar novas configurações.

Atenção: não é que as redes sejam inteligentes; os indivíduos é que se tornam mais inteligentes quando se conectam nela. Esse é o motivo pelo qual cidades maiores costumam ser mais propícias a boas ideias; elas reúnem mais pessoas diferentes, culturas e modos de organização. Quando o indivíduo se conecta nessa rede, tem mais elementos para recombinar; seu adjacente possível aumenta com o tamanho da rede em que está inserido.

3. A intuição lenta: o processo para se tornar uma “descoberta”

Como Malcolm Gladwell – autor de Blink: a desisão num piscar de olhos – já demonstrou, a intuição é quando nosso cérebro trabalha em background com todas as conexões que conseguiu acumular, correlatas ou não, até a hora que a linha de raciocínio se completa. Aí, a pessoa fica achando que teve uma epifânia e grita eureka. Mas o trabalho é bem mais lento do que se imagina. As conexões levam anos para encontrarem um caminho de se ligarem umas às outras e também dependem dos adjacentes possíveis.

Por isso é que Steven critica os brainstormings da maneira como são feitos; a probabilidade das conexões entre os participantes encontrarem um caminho entre os adjacentes possíveis em tão pouco tempo é bastante improvável. O autor recomenda que todas as ideias e informações sejam registradas e revistas frequentemente (hábito que Darwin tinha).

4. Serendipitia: as descobertas aparentemente acidentais

Essa palavra tem origem em um conto persa, onde três reis foram visitar uma princesa e descobriram no caminho várias coisas que não estavam procurando. Serendipitia é encontrar soluções por acaso.

Exemplo clássico é o forno de microondas, que foi inventado depois que um pesquisador percebeu que os chocolates derretiam em seu bolso.

Para isso, é preciso provocar constantemente conexões inusitadas e pensar sobre como elas poderiam ser desdobradas; mas o histórico de conexões internas tem que estar preparado para a sintonia, senão nada acontece. A Web pode ajudar bastante quando a gente encontra assuntos interessantes que não estava procurando, por exemplo, mas a mente tem que estar preparada, senão é só perda de tempo.

5. Erros: o erro como aprendizado

As pessoas que têm mais boas ideias, também erram mais (é claro, elas fazem mais conexões). O engraçado é que às vezes a gente acha que existe um erro só porque não tem explicação para o fenômeno. Os cientistas que descobriram sinais do Big Bang levaram mais de um ano achando que as manchas que estavam enxergando eram problema do telescópio.

6. Exaptação: as invenções de uma área aplicadas em outra

Esse é um termo emprestado da biologia que descreve organismos otimizados para funções específicas, mas que depois foram usadas para outros fins com sucesso. Na inovação, um bom exemplo é a prensa de Gutenberg que foi inspirada nas prensas de uva para fazer vinho.

Outro exemplo é a World Wide Web, que nasceu dentro de um laboratório para servir de plataforma de pesquisa para hipertextos e hoje serve para tanta coisa que ninguém tinha pensado antes. Ou ainda o GPS, que foi concebido para fins militares e agora é onipresente nos táxis das cidades grandes.

7. Plataformas: as camadas superpostas ou processos generalizados de sedimentação do saber

Nenhuma boa ideia começa do zero; parafraseando Isaac Newton, para ver mais longe é preciso ficar em pé sobre ombors de gigantes. Se você usou plataformas abertas (sejam tecnológicas, matemáticas, literárias, artísticas ou o que for) para desenvolver sua ideia, seja generoso e deixe sua plataforma disponível para os que vêm a seguir. Todo mundo ganha assim.

Conclusão

A opinião de alguém em sua tese pode ajudá-la a crescer, seja corrigindo-a ou complementando-a. Essa relação de compartilhar uma ideia é benéfica, porém, ao juntarmos duas ou mais ideias, o resultado obtido é muitas vezes mais interessante. Elas podem se somar ou se complementar, afinal ideias são abstratas e moldáveis.

Resumindo:

  • As melhores ideias não surgem de surtos repentinos de perspicácia e inspiração;
  • As ideias mais interessantes levam tempo para evoluir e passam um bom tempo hibernadas;
  • As boas ideias surgem da colisão de pelo menos dois palpites menores, que formam algo maior que eles próprios;
  • Precisamos de informação, colaboração e ambientes que permitam a criatividade e a mistura de ideias gerando inovação;

Sempre observei que as pessoas tem receio em compartilhar as suas ideias basicamente pelo medo de ser ridicularizado e o medo da ideia ser roubada. O meu conselho é: compartilhe e ouça as opiniões de outras pessoas, mas saiba filtrar o que é importante do que é apenas obstáculo. O grande propulsor da inovação está na conectividade.

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Posted on 14 de novembro de 2013 in Acontece, Entertainement

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