Ferramenta substitui diário de dor de cabeça em papel, com baixa adesão. Programa envia relatório ao médico com frequência de crises de paciente.
Mariana Lenharo Do G1, em São Paulo
Um dos princípios modernos do tratamento de dores crônicas é que o paciente tenha uma participação ativa na terapia, de acordo com o neurologista Ariovaldo Alberto da Silva Jr., do Ambulatório de Cefaleias do Serviço de Neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG. No caso das dores de cabeça crônicas, é fundamental que o paciente mantenha um diário para registrar a frequência com que as crises aparecem e quais foram os fatores desencadeantes.
Os médicos especializados no tratamento de cefaleias costumam pedir que o paciente leve consigo um diário de dor de cabeça, em que devem anotar diariamente essas informações. Diante da resistência dos pacientes em carregar esse caderno, um grupo de neurologistas de Belo Horizonte resolveu criar um aplicativo para celular que pudesse desempenhar essa função.
“O diário em papel tinha folhas enormes, e o paciente, quando melhorava, parava de usar. E às vezes essa é a hora em que a gente mais precisa das informações, para melhorar a evolução”, diz Silva Jr. “Percebemos que aquilo tinha um aspecto simbólico de o paciente ficar aprisionado no papel. Com o aplicativo não, é apenas mais um que está no celular, como vários outros para gerenciar seu cotidiano.”
O aplicativo, chamado simplesmente “Dor de Cabeça”, foi desenvolvido por um time de especialistas de instituições como a Santa Casa de Belo Horizonte e o Hospital das Clínicas da UFMG, do qual Silva Jr. faz parte. Ele apresentou o programa, que foi criado há cerca de um ano, em uma mesa redonda sobre novidades no tratamento de dor no Simpósio Brasileiro e Encontro Internacional sobre Dor (Simbidor), evento que teve início nesta quinta-feira (7) em São Paulo.
Ele observa que, quando a dor ocorre em uma frequência baixa, uma vez por mês, por exemplo, é fácil lembrar-se para comunicar ao médico. “Mas quando o paciente passa a abusar de analgésicos e ter dor frequente, quase diária”, segundo Silva Jr., é comum que ele perca o controle de quantas vezes é acometido pelas crises.
Médico recebe relatório
A ferramenta permite que o paciente anote os dias em que teve dor de cabeça, qual foi sua intensidade, se houve algum fator desencadeante – como período menstrual, estresse, falta de sono – se o paciente tomou algum medicamento, entre outros dados. O aplicativo faz um cruzamento de informações e cria relatórios sobre o histórico do paciente, que podem ser enviados em PDF para o médico.
“Se a pessoa tem dor de cabeça frequente, é importante começar a anotar. Vai facilitar muito quando for ao médico e, o mais importante, vai facilitar sua visão sobre sua própria saúde. Porque a dor vai se cronificando aos poucos e pode ser difícil perceber isso sem esses dados”, diz Silva Jr. O aplicativo está disponível gratuitamente na Apple App Store e também para celulares com sistema Android.