Brasileiro faz “Instagram da vida real” espalhando molduras na Inglaterra.

Peças que imitam posts e filtros do app estão em Londres e Manchester. Ideia de publicitário veio da frustração com a dependência tecnológica.

Bruno Araujo Do G1, em São Paulo

Os filtros de imagem do Instagram introduziram um modo estilizado de ver e registrar nossas cenas diárias. O publicitário Bruno Ribeiro, no entanto, resolveu extravasar essa lógica. Munido de cartolina e papel celofane, Ribeiro espalhou pelas ruas de Manchester e Londres, na Inglaterra, várias molduras que imitam o visual das postagens no aplicativo de fotos, com direito a número de curtidas, legendas e, é claro, filtros. Com elas, o público pode ver pontos das cidades sob uma nova luz e sem usar um smartphone: um “Instagram da vida real”.

Moldura feita por Bruno Ribeiro
(Foto: Arquivo pessoal/Bruno Ribeiro)

Em entrevista ao G1 por telefone, o brasileiro, que mora fora do país há quase sete anos, diz ser fã do app de fotos, mas conta que a ideia das intervenções surgiu justamente a partir de uma frustração com a dependência do uso de tecnologia no dia-a-dia.

“O Instagram trouxe a fotografia para o nosso cotidiano. E mesmo quem não é fotógrafo ou artista acaba querendo de alguma forma ser criativo usando o aplicativo”, diz Ribeiro.

“Mas acho bem estranho essa coisa de ficarmos conectados o dia inteiro. Todo o tempo ter essa preocupação de não ficar 2 horas sem e-mail, sem celular. Então é quase uma forma de falar que a vida também é bacana sem o seu telefone. Guarde ele no bolso e olhe para isso aqui na rua”.

Da Catedral de St. Paul, local histórico de Londres onde Lady Di e o Príncipe Charles se casaram, até um grafite do artista visual Banksy, as molduras de Ribeiro brincam com a resposta das pessoas a uma ideia até então exclusivamente virtual e o fator “instagramável” de paisagens e situações, que muitas vezes acabam com a observação de um momento em favor de uma foto para o app.

“Não dá para fotografar toda comida que chegar na sua mesa. A comida esfriando e você fotografando. Como tudo na vida, tem de haver um bom senso e equilíbrio. A gente não pode ser alienado, mas também não pode ser completamente dependente, um escravo da tecnologia”, comenta.

Ribeiro diz que a reação das pessoas ao trabalho tem sido positiva e surpreendente. “Eu literalmente acabo de pregar uma peça e já tem duas, três pessoas esperando para fotografar. É muito automático. E realmente é engraçado ver isso porque eu fiz esse projeto pela diversão”.

O fato dos pedestres interagirem com as obras e, curiosamente, tirarem fotos delas não incomoda o brasileiro. Na verdade, ele prefere as molduras que têm um fundo que pode ser “sempre alterado”.

“A catedral é sempre a catedral. Mas tem uma [moldura] na Brick Lane, uma rua famosa que tem feiras durante o domingo, e ela está sempre com vida atrás, as pessoas passando todo o tempo”, comenta Ribeiro. “Toda reação é válida. Não tem um certo ou errado. Não quero passar uma mensagem de ‘repensem a vida de vocês’. Não sou dono da verdade. Fico feliz se as pessoas tiram foto, se não tiram mas riem, ou se param para pensar que a vida dá para ser curtida sem filtros”.

Foto de moldura que imita visual do Instagram, em Londres (Foto: Arquivo pessoal/Bruno Ribeiro)
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Posted on 18 de novembro de 2013 in arte de rua, Redes sociais

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